segunda-feira, 31 de maio de 2010

Amor fail, Paixão mode on

Não é do amor que sinto falta. Aliás, ultimamente não tenho acreditado nele. E se por um acaso ele existir não é tão sólido quanto diz sua reputação. Existiu pra mim um dia, mas dissolveu. Acho que daqui pra frente não existirá mais.

Da paixão correspondida sim, desta eu sinto falta e muita. Das descobertas, do encantamento, da falta de ar e da aceleração do coração, das noites de sono perdidas, dos vicios adquiridos que só são entendidos entre duas pessoas. Da expressão patética, da leitura do olhar e do bom humor constante. Apesar de nos últimos meses odiar gente apaixonada, acho que é isso que tem me faltado.


Receita de Buba


Indivíduos distintos na falta de algo que os ocupasse resolveram fazer uma receita só por diversão. Poucos iniciaram a tarefa e adicionaram primeiro as boas coisas: amor, carinho, fidelidade, cumplicidade, amizade, compreensão...Para eles parecia tudo muito bom, mas na visão de outros que observavam, o que havia de bom acabara e achavam que ainda não era o suficiente e adicionaram: indiferença, inveja, falsidade, ciúmes, ignorância, raiva...
Enfim, estava pronto! A massa parecia homogênea para a maioria (aqueles que decidiram adicionar o que não era bom), porém provaram e a receita era incomestível para eles, estavam cegos para perceber que se a receita estava ruim era por causa deles, afinal não tiveram bom senso ao prepará-la. Se não gostavam daqueles ingredientes por que o adicionaram a receita? Já os poucos que adicionaram as coisas boas souberam distinguir e separar a parte que haviam adicionado e aproveitá-la, a bondade era recíproca, deram o que tinham de melhor e receberam a melhor parte.


Quantidade e qualidade são coisas distintas. Ser o suficiente pra poucos que valem a pena e sabem reconhecer o que há de bom e desprezar a parte ruim já me basta.


sábado, 29 de maio de 2010

Incerteza

Não há mais certeza de nada. A palavra TALVEZ repete-se muitas e muitas vezes todos os dias. Talvez isso e aquilo. Mas talvez isso não seja ruim. Melhor viver na incerteza do talvez do que gerar expectativas por conta de uma certa certeza, que no final só gera frustração.

Talvez...vai saber?! Sei lá...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Sinônimo

A necessidade das presenças certas é constante, presenças que recarregam de boas energias, enchem de ânimo, dão esperança e alegria que dura por dias. A expectativa de algo bom que valerá a pena e que enquanto não acontece ocupa a mente e distrai da desgastada, cansada e maçante rotina.
Presenças que fazem perceber sentido em pequenas coisas, conversas, risadas, carinho e companhia mesmo que seja para não se fazer nada.

E eis que surge a descoberta, o desanimo tem outro nome: SAUDADE.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Enganado[re]s

Mentiras são disparadas a todo momento, dos lugares mais inesperados, das pessoas que dizem que te querem bem. No fundo todos sabem a verdade, enganados e enganadores. O enganador tenta convencer-se de que não estão fazendo mal algum. Já o enganado finge nada ver (até pra si mesmo).

Fechar os olhos para evitar pequenos atritos é bom, evita desgastes desnecessários. Mas fechar os olhos para grandes enganos é burrice.

Enganados:

Se conhece alguém assim não adianta alertar, enganados são cegamente burros. Estes só veem o que querem ver. Amam os mentirosos e menosprezam os verdadeiros. Têm mania de perseguição e geralmente são muito inseguros. Se poupam do sofrimento momentaneo da perda e preferem o longo sofrimento da incerteza. São manipuláveis. Mergulham de cabeça na mentira e por isso são protegidos da verdade nua e crua por serem considerados demasiadamente frágeis.

Enganadores:

Da mesma forma não adianta alertar, são mais burros que os enganados, acham que sempre se darão bem, afinal os enganados nunca duvidam/duvidarão deles. Só enxergam sua satisfação pessoal. Suas mentiras passam a ser verdades assim que proferidas, são uma espécie de compensação pelas frustrações do passado (frustar outras pessoas não apaga o que passou). São tão convincentes que enganam a si mesmos. Mas nada é pra sempre.

Resumindo: Têm que se ferrar mesmo. É errando que se aprende, alguns nem assim aprendem.


Meu porta moedas está cheio e eu vejo os dois lados de cada moeda. É decepcionante ver o caminho que estão tomando, mas enfim, cada um escolhe o seu caminho e esse é o deles e não o meu.

Quanto a mim, sou parte enganada e parte enganadora. Nenhum dos dois me domina, com o tempo aprendi a desconfiar e proteger-me. Engano (somente os enganados natos) e deixo-me enganar. É a minha multipolaridade agindo quando me convém.


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aracnofobia

Eu como toda mulherzinha sempre tive medo de qualquer bichinho que tivesse várias patinhas, andasse rápido e fosse considerado asqueroso, mas isso nunca me atrapalhou e nem causou grandes traumas. Porém, de um ano pra cá passei a ter PAVOR de aranhas devido a um sonho que tenho com frequência.
O engraçado é no sonho a aranha está na direção em que estou dormindo e quando acordo assustada continuo vendo a aranha por alguns segundos no mesmo lugar do sonho, o que faz parecer ainda mais real. Na primeira vez que sonhei a aranha estava no teto, acordei e a mirei por alguns segundos, sai correndo arrastando cobertor e tudo mais, pedindo socorro a minha irmã. Meus pais acordaram, reviraram meu quarto, mas não acharam nenhuma aranha. Mesmo assim eu achei que era verdade e tive dificuldade de dormir por alguns dias.
Nos sonhos seguintes a aranha se aproximava, porém estava menor. Ela apareceu na minha cama diversas vezes. Minha irmã se acostumou e sempre tentava me acalmar dizendo que era só um sonho.
Fiquei alguns meses sem ter esse sonho, mas nos últimos dois dias o tive novamente (nunca o tive dois dias seguidos). Mas agora houve outra mudança, eu acordo com os movimentos rápidos da aranha. É como se ela estivesse construindo sua teia próxima a minha cama, mas ela se descuida e fica pendurada e emaranhada na própria armadilha e se debate muito e muito depressa.
Eu me pergunto: por que de repente passei a ter pesadelos com aranhas? Qual o significado disso? Por que sonho sempre a mesma coisa?
Busquei significados de sonhos, mas não acredito nisso, acho que cada pessoa tem que buscar o significado para o próprio sonho, não existe um só significado pra todos os sonhos com dentes, cobras, aranhas, enfim...Só sei que não aguento mais acordar assustada no meio da noite.
Não tenho rezado antes de dormir, todos estão me dizendo que é isso, vai saber?!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Que o Deus venha

Mesmo para os descrentes há o instante do desespero que é divino: a ausência do Deus é um ato de religião. Neste mesmo instante estou pedindo ao Deus que me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. Sou forte mas também destrutiva. O Deus tem que vir a mim já que eu não tenho ido a Ele. Que o Deus venha: por favor. Mesmo que eu não mereça. Venha. Ou talvez os que menos merecem mais precisem. Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei – assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo de teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro as asas, livre para viver. Então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou viva. O âmago sensível. E vibra-me esse it.


Clarice Lispector

Música: http://letras.terra.com.br/barao-vermelho/193075/


aBUrrida

Dor de cabeça e vazio no peito, é o que sinto agora.
De tempos pra cá ouvi diversos questionamentos sobre a mudança no meu comportamento e a minha expressão apagada, pois me viam desanimada e eu sempre fui elétrica, até demais. Estes comentários tem ficado cada vez mais frequentes, estão sendo feitos até pelas pessoas com quem eu me alegrava mesmo estando triste. Mas não há resposta, eu não sei o que acontece. Na verdade no fundo talvez eu saiba, mas tenho medo de admitir até pra mim mesma, então prefiro dizer que estou cansada. Cansada realmente estou, aliás, muito cansada. Cansada de tudo e de todos. Mas não é só isso. Vontade de desistir de tudo me persegue, queria poder jogar tudo pro alto, mas isso não resolve nada, pelo contrário, mas mesmo sabendo a vontade não passa. Queria que passasse.
Não quero voltar atrás e tenho medo de seguir em frente. Enquanto não arrumo coragem permaneço aqui, estagnada: chorando quase sempre, sorrindo quando há motivo, me estressando e evitando as pessoas, me revoltando com a vida mediocre que estou levando e escrevendo quando não aguento mais.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Carapuça

Pegou sua carapuça, que aliás, caia-lhe muito bem, jogou-a pro alto e esperou que alguém a vestisse e servisse da mesma forma. Disse:
- Hey, você que faz isso e aquilo?!
E pensei:
- Sinto muito, mas a mim não serve, essa é só sua, foi feita sob medida.
Mas fiquei em silêncio desta vez, afinal, estou evitando atritos nas minhas relações pessoais e parei de perder tempo com gente mais insegura que eu.

O pouco que sobrou

Eu cansei de ser assim
Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem

Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou

Marcelo Camelo

Não vou me preocupar

"Não vou mais me preocupar", quantas vezes já disse isso?! Inúmeras. Juro que não busco mais os tropeços e mancadas alheios, mas parecem que os fatos atiram-se no meu rosto para que com o impacto eu abra os olhos. Mas não vou abrir, não me incomodo mais (tento acreditar). Não vou me preocupar.

Estou tentando trilhar o caminho certo, mas choveu forte e está um pouco escorregadio. Quanto ao caminho dos outros, cada um sabe de si, se não forem honestos isso já não é um problema meu, afinal, não vou mais me preocupar.

O amor está perdendo seu significado, foi banalizado. Poucos sabem o que ele é de verdade, talvez eu esteja no meio deles, mas não vou me preocupar.

Pessoas são decepcionantes e estou cansada de decepções. Por enquanto chega. Não vou mais me preocupar.

Olhares são mentirosos, inclusive o meu, não tenho toda essa malícia que veem nos meus olhos. Sou bem diferente do que pareço ser, pensem o que quiser eu não vou me preocupar.

Sou áspera, mas sou verdadeira, não sei fingir. O lado ruim disso é que as vezes sou grossa com quem não deveria ser. Não sei me conter e não vou me preocupar.

A vida prega várias peças, dá algumas rasteiras e cansa bastante. Mas enfim, faz parte! Não é uma visão conformista, não vou aceitar as coisas mais desprezíveis só porque mudá-las me dará trabalho, só não quero mais absorver cada ato rotineiro e mesquinho da espécie humana, isso não muda e NÃO VOU ME PREOCUPAR.

Não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar,
não vou me preocupar, não vou me preocupar, não vou me preocupar [...]






sexta-feira, 14 de maio de 2010

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um mundo

Em três meses fizemos um mundo, o nosso mundo. Três meses que parecem anos, que parecem parte de um passado distante. Mas esse tempo passou rápido, porém, devagar. Mal me lembro dos anos que vivi e daquele velho mundo monótono e de verdades isoladas.
Não tenho mais saudade da vida de antes e não me vejo mais sem a vida de hoje. Quero cada vez mais meus amigos por perto, a liberdade de ir e vir e o pensamento livre do peso das coisas que deixei de fazer. Só quero envelhecer e olhar pra trás sem me arrepender da vida que levei. Mas até lá olhar pra frente é minha meta.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Primavera

A rosa murchou. Não foi mais regada, foi privada da luz do sol. Ninguém mais dedica seu tempo a ela. Sente-se sem importância. Seria mais bonita e cheia de vida se tivesse quem a cuida-se. Talvez seja a hora de fincar raízes, desprender-se desta dependência, mas rosas são egoístas, precisam de atenção e não assumem estar erradas.
A primavera chegará, mesmo que fora de hora, mas será percebida, pois a rosa dará sinais.

domingo, 9 de maio de 2010

Sentimental



"
Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."



Sem brincadeira

Só falo o que sinto, mesmo que precipitadamente, não me podo. Mas sinceridade as vezes é ruim, preferia ser menos sincera, menos sentimental, pra que ser se não acreditam? As dúvidas me ofendem. Pessoas não são brinquedos. Criar fatos ilusórios supondo o que eu sinto, fatos que são o contrário do que digo, tolice. Quem sabe dos meus sentimentos sou eu! Foda-se, acreditando ou não, eu ainda dou valor, mas agora calada.



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Prazer, eu sou a raposa!

[...] E foi então que apareceu a raposa:

- Boa dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. não me cativaram ainda.

- Ah! desculpa, disse o principezinho.

Após uma reflexão, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...

- Oh! não foi na Terra, disse o principezinho.

A raposa pareceu intrigada:

- Num outro planeta?

- Sim.

- Há caçadores nesse planeta?

- Não.

- Que bom! E galinhas?

- Também não.

- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia.

- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:

- Por favor... cativa-me! disse ela.

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.

- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então, não sais lucrando nada!

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.

Foi o principezinho rever as rosas:

- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

E as rosas estavam desapontadas.

- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

E voltou, então, à raposa:

- Adeus, disse ele...

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY