domingo, 30 de junho de 2019

O meu corpo inteiro dói, o estômago revira, o nó na garganta e as lágrimas que não consigo conter. Há muito tempo não me sentia assim, não lembro quando foi a última vez. Esse sentimento de rejeição, de nunca ser suficiente pra nada. Sempre ser preterida por padrões sociais que já não quero alcançar, mas que ainda me doem. O peso de querer viver uma vida leve me sufoca. Tem me sufocado por todas as dúvidas de não saber se estou fazendo certo. Sempre me apeguei ao peso. Dos outros e ao meu. Peso emocional que me move quando é pra ajudar e paralisa quando é meu.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Leoninos

O vigésimo primeiro foi aquele que eu nem imaginava que eu pudesse conhecer, mas na primeira vez que o vi numa foto senti toda a sensualidade, sexualidade... pensei em outras palavras, mas não encontrei outra melhor para descrever a minha primeira percepção. Quando vi a imagem daquele homem de traços leves, mas de aparência bárbara, não pude deixar de compará-lo a um animal pesado, mas de movimentos leves e precisos, algum felino que aparenta rugir alto, mas que no fundo não passa de um gato manhoso.
Numa manhã de terça-feira, antes no meio dia, sem planejar, um convite e um encontro. Não podíamos acreditar que era real. Eu, com um osso quebrado, sendo irresponsável pra não deixar a oportunidade passar. Fui preparada pro pior apesar de querer aquele homem há meses. Meu humor andava uma merda e eu sabia que o dele não estava dos melhores (meus padrões de homem: depressivos, ansiosos, tímidos e, as vezes, todos em um só). Tentar descrever que foi melhor do que eu podia imaginar é muito clichê, mas a pancada da minha queda afetou a extensão do meu vocabulário e a organização das palavras na minha cabeça. Queria devorá-lo inteiro e fiquei pensando naquele dia, achando que não ia ser tão fácil encontrar alguém que preenchesse meus buracos por um dia como ele preencheu, até que encontrei outro leonino, amigo daquele meu passado que me fez iniciar essa contagem e a contagem termina aqui, no vigésimo segundo. Já havia perdido o sentido, mas resolvi registrar dentro dela o último improvável. O vi tantas vezes e nunca imaginei lembrar dele com frio na barriga do tesão contido e a vontade de mais. Espero repetir os leoninos por tantas vezes forem necessárias para saciar todas as vontades. Espero repeti-los com toda a sinceridade usada até aqui para todos saírem inteiros. Ilesos. Corações ilesos e desejos liquidados, dilacerados em pedaços bons de pessoas inteiras.

Cóccix

Ando sumida, cai e fraturei um osso que me obrigou a parar e encarar a minha vida e tudo o que tenho fugido. Foram dias de desespero, pela dor fisica e emocional. Dez dias sem sair de casa, sem animo pra nada que não fosse cuidar dos meus gatos. Abdiquei dos meus prazeres pra me dar o direito de viver num limbo de um poço sem fundo que eu venho ignorado, sempre que posso, a minha vida inteira. Não é por mal, mas minha memória anda falha e eu não consigo mais encontrar pontos importantes, o psicólogo disse que é  sinal de que estou no caminho certo. Sonhos com água, prisões e pessoas que amo se machucando sem eu poder fazer nada, sonhos que se repetem. Na vida os padrões também se repetindo, logo agora que achei que não  fosse rastejar duas vezes pelo mesmo caminho.  Comecei a tatuar na pele uma cobra no início desse processo. Comprei outra cobra, como cajado, para abrir esse caminho e me ajudar a levantar quando a dor me impedir de fazer isso sozinha. Se eu me sentia sozinha antes de isso tudo acontecer,  agora me sinto muito mais. Meu mapa astral dizia isso, mas meu lado cético não me deixava acreditar. É hora de sentir a solidão, a que sempre temi e fugi, me enchendo de companhias tóxicas e problemas dos outros pra não encarar os meus. Chegou a hora e eu fui obrigada a parar. Já  faz 2 meses e eu ainda nem sei por onde começar.

terça-feira, 12 de março de 2019

cobra

O décimo nono, 5 anos mais novo, mas era meu tipo e fui só pra ele me apresentar um lugar novo pra comer. Sagitário, delicadamente grande e interessante. Caminhamos por quilômetros conversando e sentamos pra beber no meu bar preferido e tudo se desenrolou naturalmente, não tinha pretensão, mas aconteceu e foi bom. O vigésimo eu não ia ver, mas chamei pra beber uma de última hora, deixei rolar todas as coisas que eu nunca deixo. Dominador como eu me trouxe a segunda, terceira...todas sem planejar. Tivemos o que queríamos um do outro e acabou sem pesar, talvez tenha ficado uma amizade que não ficou dos outros. O décimo nono voltou, eu quero, mas minha preguiça emocional fala mais alto. Essa coisa de conta já perdeu o sentido. O marco que iniciou a contagem já nem significa mais nada pra mim. Foram vinte corpos em quinze meses até eu perceber. Só um ainda quero, mesmo sem poder.

As segundas desse ano vem junto com uma troca de pele, meu corpo me mostrando que é hora de mudar. Meu corpo ainda querendo o mesmo corpo entre outros vinte sem poder, de novo .  Eu lembro daquele mês do ano passado e sinto uma falta que dói. Eu choro sempre que me perguntam do que eu sinto falta. E eu não entendo porquê ainda me sinto assim.

A rejeição que sofri no início da vida, mesmo que sem intenção,  me marcou pra sempre. A falta do leite materno, talvez, tenha me trazido uma intolerância à leite, que me causa sintomas como os de qualquer tipo de rejeição. Ânsia, dores de estômago e a pele que queima e desprende do meu corpo. Como uma cobra que troca de pele, minha pele solta na esperança de iniciar uma nova fase a cada semana, mas pouco muda. Minha mudança é mais lenta que as trocas de pele. Tenho ligado os pontos, feito descobertas e achando as causas dos efeitos. O processo de cura está acontecendo, mas ainda sinto que rastejo no caminho. O que me conforta é que dessa vez dói, mas parece definitivo. Nada de dores repetidas. Espero não rastejar duas vezes no mesmo caminho.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

O décimo sétimo: bonito, muito mais feminino do que eu. Cabelos longos, ondulados e claros, olhos azuis e pele perfeita. Conversamos como amigos a noite toda. Foi chamado de garota muitas vezes, não se importa mais. "Isso que dizer que sou bonito e bem cuidado", ele dizia com um tom de leonino que se ama e se conhece. Beijos que se encaixaram, mas foi só isso. O décimo oitavo: não sei nem se merecia nota, escorpiano, apesar de bonito, inteligente, gostoso e tantas outras qualidades, não me tocou, e depois de umas horas, de um dia para o outro, mesmo tendo desejado demais tudo aquilo que estava acontecendo, já não tinha mais graça e eu só sabia desejar o décimo nono que veio no mesmo dia a tarde. O décimo nono: sagitariano, o tipo de pessoa por quem eu me apaixono e procuro. Grande, parece tímido, sorriso bonito, despretensiosamente carinhoso...mas é sempre a mesma coisa.

Parece que o remédio tem deixado tudo sem cor. Sempre mais do mesmo, sem empolgação a longo prazo. E mesmo quando há me conformo que o fim é sempre drama. Minha obsessão já não me dá mais tanto prazer. Queria encontrar o meio termo entre minha paz de espirito e os prazeres saciados. Queria o meu eu sem remédio, mas sem a tristeza e ansiedade que vem junto.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Numa tarde de domingo, depois de um sábado que não deu em nada, o décimo quinto veio me lembrar de coisas antigas e me fazer rir, nem tudo foi como eu queria, mas foi bom pra lembrar de muitas coisas das quais havia esquecido. O décimo sexto eu já queria há 3 anos e uma semana depois de eu lembrar de como eu o queria ele reapareceu e foi mais do que eu podia esperar. Entre eles dois, em meio a uma discussão política, eu e a mania que tenho de envolver cu nas conversas, me rendeu uns beijos no opositor, mas esse não entra pra conta. Desde então tem sido só rejeição. Um misto de abstinência e vontade de me resolver. E eu quero mais os que não posso ter. Eu estagnei na terapia, por causa dos sonhos que eu fico presa. Aquele da praia que a maré me leva pra dentro de uma casa e eu não saio porque não sabia nadar, agora eu sei, mas no sonho continuo não sabendo. E o outro que estou presa no trânsito ou perdida numa situação de tensão como uma guerra civil tentando achar alguém que eu não sei quem é. São questões que não sei se têm relação, não sei por onde começar. Talvez eu só não queira admitir, mas perdi meu norte, voltei muitas casas e estou presa e perdida como nos meus sonhos. Antônio diz que devem ser importantes já que se repetem tanto e que tenho que pensar até entender. Eu só queria voltar ao nível de conforto do meu segundo mês de remédio. Conflitos não são o meu forte, mas eu não quero aumentar a dose.