sexta-feira, 24 de outubro de 2014

[pe]Última carta

Nó,

Eu não te odeio mais, mas sonhei que a gente tinha voltado e passei mal como quando terminamos. Fui parar no hospital. Desde então uma série de coisas estão acontecendo pra que eu lembre de você todos os dias. Justo você que me fez tão mal e eu custei a esquecer.
Nos últimos dias você esteve em todas as refeições. Senti falta da sua comida, da comida da sua mãe, do seu pai e até a da sua vó. Estava carente e lembrei de todas as vezes que não quis dormir no seu peito porque havia dias que eu não suportava você por perto. Confesso, me senti um pouco boba. Lembrei dos mistos quentes com mostarda nas manhãs seguintes a dias ruins causados por nossas brigas e de como isso melhorava o meu dia, talvez você nem saiba disso. Lembrei das brincadeiras idiotas, das fotografias, das guerras de travesseiro e de como eu adorava o som da sua risada. Das suas pequenas declarações piegas em redes sociais ou por sms. Senti falta dos carinhos de barba, dos carinhos nas costas (que descobri posteriormente que não é exclusividade sua), da podolatria (sim, é exclusividade sua até agora), das suas manhas e de tudo que eu conseguia suportar em você. Estranhamente não lembrei das coisas ruins . Por esses dias até pareceu que tudo foi perfeito. Reli meus textos pra lembrar do porquê não servimos um pro outro. Lembrei bem.
Fui tomar um banho e só achei uma toalha que sua mãe me deu, fui colocar uma camiseta pra dormir e só achei as suas, uma meia e só aquelas de lã que sua vó trouxe de uma excursão...todos os presentes e lembranças se atirando no meu caminho. Deu até saudade de jogar video game, ver aquele seu brinquedo dos slides que eu nunca tive paciência e tomar a melhor caipirinha de maracujá: a sua. Me disseram que é um tal de ciclo de escorpião que tá rolando, que atrai pensamentos sobre o que já passou, sei lá, não entendo muito de astrologia...Aí você é de escorpião, eu também. Ambos estamos em pleno inferno astral. Deve ser isso, tudo intensificado...espero que seja. Tomara.
Tenho que pegar logo minhas coisas e devolver as suas pra nos libertarmos e livres seguirmos em frente sem nem olhar pra trás. Não fazemos bem um pro outro. Quero o adeus que até hoje não tivemos.