quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Quando eu era criança eu vivia perguntando pro meu pai:
- Posso gritar?
E quando minha mãe não estava por perto ele dizia:
- Vai lá na janela e GRITA (com a cara de arteiro que quem conhece seu Geraldo sabe)
Eu chegava na janela grande de vidro que pegava a parede da frente da sala inteira e gritava a plenos pulmões.
Quando a gente ia pro sítio onde a família morava ele falava:
- Vai andar por aí e gritar se quiser, porque a gente já vai embora.


E eu ia porque sabia que não ia poder extravasar com a frequência que gostaria quando chegasse em casa. Era uma alegria que até hoje não sabia explicar.


Há uma semana esse velho teimoso que sempre me ensinou a fazer arte escondida da minha mãe vem me deixando preocupada e ontem ele murchou. Nunca vi meu pai daquele jeito e nunca senti tanto medo. Medo de perder o homem mais importante da minha vida.

Hoje a tarde, quando recebi a notícia de que descobriram o que ele tinha, já tinha sido operado e estava bem, senti a mesma vontade de gritar, senti a mesma alegria e entendi. Essa alegria não era de poder gritar na janela e sim de ter um pai tão maravilhoso quanto o meu que sempre me deixou livre pra fazer minhas próprias escolhas sem me julgar e querendo apenas que eu fosse feliz.


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